A ONG Todos pela Educação divulgou a pesquisa ´De Olho nas Metas 2011´, que avalia a qualidade do ensino
Estar fisicamente presente na sala de aula não é mais sinônimo de que a população está aprendendo os conteúdos repassados. O problema seria mesmo a qualidade do ensino ofertado. Uma pesquisa anual divulgada ontem pela organização não-governamental (ONG) Todos pela Educação denunciou algo bem grave: apesar do Ceará estar na 3ª posição nacional, com melhores índices de universalização do acesso, com 87% de taxa de atendimento, os níveis de aprendizagem estão ruins, diz o estudo.
O entrave estaria sendo, principalmente, com a língua portuguesa e a Matemática. Na área de exatas, os estudantes do 3º ano do Ensino Médio na rede pública, por exemplo, obtiveram notas vermelhas durante todo o ano: 96,5% deles não conseguiram alcançar um nível considerado adequado pela ONG. A triste situação se repete com o Português; 80,65% tiveram desempenho ruim. Neste cenário, maioria dos jovens tem saído da escola sem saber ler e contar.
Este relatório anual possui o intuito de acompanhar os indicadores educacionais ligados às cinco metas estabelecidas pelo Todos Pela Educação para serem cumpridas até 2022. A primeira meta é chegar ao índice de 98% ou mais das crianças e jovens de 4 a 17 anos matriculados e frequentando a escola no prazo de dez anos. O Ceará ainda está longe, faltam 11 pontos.
Como conseguirão, então, enfrentar o concorrido e exigente mercado de trabalho se estão saindo tão despreparados e com baixo nível de cognição e saber?
Dificuldades
Infelizmente, a pesquisa aponta ainda várias fragilidades. O problema do abandono dos estudos ainda é grave. Conforme a ONG, 8% dos estudantes cearenses estão fora da escola, na faixa etária entre 4 e 17 anos. São mais de 160 mil meninos e meninas que poderiam estar abrindo a mente para o conhecimento e estão, muitas vezes, perdendo o rumo.
Capital
Fortaleza também tem feito feio, conforme o estudo, com relação ao cumprimento dos índices da ONG. Com relação à meta 3 - aquela que se refere à aprendizagem de Português e Matemática - 75,3% dos alunos do 5º ano, na matéria de redação, não atingiram, entretanto, os índices de aprendizagem e 81,5% não tiveram êxito nas áreas de exata.
Com relação ao 9º ano na rede pública municipal, 91,9% dos alunos da Capital, que estão estudando Português, por exemplo, não atingiram as metas de aprendizagem e 78% em Matemática.
Nacionalmente, a tendência segue a mesma do Ceará. Apenas 42,8% dos alunos que concluem o 3º ano do ensino fundamental têm as habilidades em Matemática esperadas para a série referida. Estão defasa
Para a professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), doutora na área de Educação, Xênia Diógenes, a pesquisa aponta uma realidade que nem sempre é clara nas pesquisas feitas pelos governos e retrata a complexa relação entre a universalização do ensino público e a conquista da qualidade da educação.
"O grande desafio não é mais o acesso. Isso estaria quase superado. Entretanto, não basta só pôr a criança na escola. A instituição de ensino tem, sim, que corresponder à expectativa de conhecimento. O problema está na política, na gestão da escola, na falta de planejamento", critica.
A professora comenta, ainda, que é preciso reinventar os processos, trazer situações de aprendizagem que tenham mais significados para o estudante. "A gente ainda permanece com uma política que não dá conta de oferecer tempo para o professor ter formação dirigida para a mudança dos quadros. Na teoria, já temos bons avanços de conceitos. Mas, efetivamente boas práticas não se deram. Há um vácuo entre o conceito e realidade", diz.
O orientador da célula de estudos e pesquisa da Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), Daniel Lavor, lamenta a situação. Ele relata ainda que a piora nos índices de aprendizagem se deve também à universalização. "Temos mais alunos nas escolas. Entre os bons, temos muitos outros bem fracos que, nos outros Estados, são desestimulados a abandonarem os estudos", diz.
Entretanto, Lavor espera a melhora dos resultados já nesse ano. Ele afirma que há em curso uma iniciativa, segundo ele, muito importante que tem preparado os meninos e meninas já no primeiro ano do ensino médio. "Ainda precisamos continuar investindo. Mas estamos melhorando, sim. Pegamos um histórico ruim de alunos fracos, negligenciados por outros governadores", explica o técnico.
Ainda sobre a pesquisa, a Secretaria Municipal de Educação (SME) não quis se pronunciar, disse não ter conhecimento do estudo e só iria se pronunciar após acessar o documento.
SAIBA MAIS
Com taxa de atendimento escolar, entre quatro e 17 anos, de 87,1%, o Ceará ocupa a 3ª melhor posição nacional em relação ao acesso.
Entretanto, de um montante de 2.040.738 estudantes matriculados, 8% desses, 160.788, estão fora da sala de aula no Ceará
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Na idade entre 15 e 17 anos, a evasão é maior ainda, de 18,4% com relação à aprendizagem, 77,9% dos alunos do 5º ano da rede pública estão abaixo do nível adequado na língua portuguesa. Em Matemática, o nível é pior, de 82,7% de reprovação.
Um total de 83,6% dos alunos do 9º ano da rede pública, por exemplo, estão com rendimento ruim em Português. Com relação à área de exatas, 93,8% vão mal.
No ensino médio, a situação piora. 96,5% dos estudantes estão com rendimento ruim em Matemática e 80,6% em Português.
Um total de 58,9% dos alunos do ensino médio não estão se formando na idade certa, 19 anos, no máximo.
Pesquisa
18% dos adolescentes cearenses entre 15 e 17 anos estão fora da escola. Também nesta fase se constata o maior índice de distorção idade-série.
Diário do Nordeste